Paulo Gamito Faria

É seu familiar e em que grau? 
Sou casado desde 03.10.1987, com a sobrinha e afilhada da CARMITA, a Maria da Redenção (São), filha do irmão, Nuno e da cunhada Olímpia. Este casal (os meus sogros) ficaram a pedido da Carmita com o encargo de acabar de criar o Fernando, o filho mais novo da Carmita até ao seu casamento em 1987.
Foi sua conhecida? 
Não tive a graça de conhecer Carmita nesta vida, pois, partiu cedo para a Casa do Pai. Diz-me a São, minha mulher, muitas vezes que teríamos gostado muito de nos conhecer nesta vida. 
 
Caso se trate de conhecimento indirecto, indique como o veio a conhecer. Identifique as pessoas que lhe falaram dela, alguma biografia ou escritos que leu, as circunstâncias em que tal aconteceu.
Ouvi falar pela primeira vez na CARMITA quando fazia um Curso Bíblico na Paróquia de São Paulo (Diocese de Setúbal) em 1985, orientado pelo Frei Acílio Mendes.
Na altura não tinha muita vontade de participar mas a minha Mãe incentivou-me a ir, e recordo-me que estava já por essa altura muito doente fisicamente a minha querida Tia Lolita.
 
A Animadora do Grupo Bíblico, que chamámos “Deus Connosco” que se constituiu a seguir ao Curso, Ester, falou da Carmita com um entusiasmo e admiração que a ninguém deixou indiferente.
 
Depois, mais tarde, quando comecei a namorar com a São (06.07.1985) comecei a conhecer CARMITA pelos testemunhos dos familiares, pela leitura do opusculo “Alguém que agarrou o Evangelho”, pelo convívio com a Mãe (Avó Chica) os irmãos, Nuno (sogro) Olímpia (cunhada), António (Tóino), Isidoro (Inha), Zita, Sebastião, Emídio, Duarte, Maria José, e sobrinhos.
 
Sobretudo, com reflexos na minha vida, teve o facto de passar a partir de 8.12.1985 a doar sangue no dia 8 de Dezembro de cada ano, seguindo o exemplo de Carmita que esteve na origem desta Dádiva Benévola de Sangue, (pensada pela Carmita para acudir aos doentes internados que por não disporem de sangue tinha de ficar em lista de espera para serem operados) das primeiras a existir na Diocese, inicitiava e teve durante muitos anos o Sr. D. Manuel Martins como o primeiro dador.
 
Foi notável na sua vida o amor e serviço à Igreja?...
Creio a vida da Carmita vivida com a preocupação manifestada por escrito: «Tenho pressa de tornar grande a vida que é tão curta, quão precisa. Quero vivê-la intensamente, em cada segundo, para que não haja, ao fim, o desperdício duma hora» é o maior testemunho que se pode dar porque afirmam-no os testemunhos recolhidos no opusculo “Alguém que agarrou o Evangelho” que afinal mais não fazem de mostrar o grande amor a Deus, ao Próximo e à Igreja.
 
Há fama de santidade em CÁRMEN ANTUNES DE MATOS FORTUNA? 
Trata-se de simples opiniões (parece que era, ouvi dizer…) ou de algo substancial?
A Santidade aparece definida como «…a plenitude da vida cristã e a perfeição da caridade, que se obtém mediante a íntima união com Cristo e, n’Ele, com a Santíssima Trindade» cf. 428 do Compêndio.
 
Poderia a Carmita ter dado o testemunho de vida que deu, se ao longo da sua vida terrena não tivesse tido uma íntima união com Cristo e n´Ele com a Santíssima Trindade conseguindo a plenitude da vida cristã e a perfeição da Caridade?
 
Lendo o livro da sua vida terrena diria que sim.
 
Na tarde do Domingo de Páscoa, dia 11 de Abril de 1993, sofri e comigo, a São, as minhas filhas Mariana (2 anos) Verónica (10 meses), Sogra, Cunhada, Tia Irene, e netas desta Andreia e Susana, gravíssimo acidente de viação, ambos os veículos ficaram totalmente destruídos, tal foi o impacto da colisão, e do qual resultaram feridos graves.
 
Na semana que se seguiu ao acidente a Verónica, já internada no Hospital de D. Estefânia, depois de ter fracturado o crânio embora não apresentasse lesões internas como veio a evidenciar a TAC, piorava de dia para dia.
 
A São e eu implorámos à padroeira da paróquia, Nossa Senhora da Redenção, que a salvasse e por intercessora no alcançar tão grande favor evocámos sempre a Tia Carmita, justamente por ter fama de santidade…
 
Assim fomos atendidos e à nossa oração juntou-se a oração da pequena Cármen Cristina neta da Carmita muito amiga da Verónica e da Mariana e que muito se afligiu quando soube do nosso acidente como nos relatou a Tia Amália, esposa do Tio Inha.
 
Seria oportuno iniciar o processo em ordem à canonização de CÁRMEN ANTUNES DE MATOS FORTUNA?
Porquê? 
Na CONSTITUIÇÃO APOSTÓLICA DIVINUS PERFECTIONIS MAGISTER
DO SUMO PONTÍFICE JOÃO PAULO II SOBRE A NOVA LEGISLAÇÃO RELATIVA ÀS CAUSAS DOS SANTOS escreveu:
 
«Mestre e modelo divino da perfeição, celebrado juntamente com o Pai e com o Espírito Santo como o “único Santo”, Cristo Jesus amou a Igreja como uma esposa e entregou-se por ela para a santificar e tornar gloriosa aos seus olhos. Com efeito, depois de ter dado aos seus discípulos o preceito de imitar a perfeição do Pai, enviou sobre eles o Espírito Santo a fim de os mover interiormente a amar a Deus com todo o coração e a amarem-se uns aos outros como Ele os amou. Os discípulos de Cristo – como exorta o Concílio Vaticano II – chamados e justificados no Senhor Jesus não segundo as suas obras mas segundo o Seu desígnio e a Sua graça, no Baptismo e na fé foram constituídos de facto filhos de Deus e participantes da natureza divina, e, por isso, verdadeiramente santos (LG, 40).
 
Entre estes, em todos os tempos, Deus escolhe muitos para que, seguindo mais de perto o exemplo de Cristo, dêem testemunho glorioso do Reino dos céus com o derramamento de sangue ou com o exercício heróico das virtudes.
 
A Igreja, que desde os primeiros tempos do cristianismo sempre acreditou que os Apóstolos e os Mártires em Cristo estão estreitamente unidos connosco, venerou-os juntamente com a Bem-Aventurada Virgem Maria e com os Santos Anjos, e implorou devotamente o auxílio da sua intercessão. A estes, em curto espaço de tempo, juntaram-se outros que imitaram mais de perto a virgindade e a pobreza de Cristo e, finalmente, todos aqueles que pelo singular exercício das virtudes cristãs e dos carismas divinos suscitaram a devoção e a imitação dos fiéis.
 
Contemplando a vida dos que seguiram fielmente Cristo, sentimo-nos incitados com maior força a procurar a Cidade futura, ao mesmo tempo que nos é ensinada uma via segura através da qual, no meio das vicissitudes do mundo, segundo o estado e a condição de cada um, possamos chegar à perfeita união com Cristo, isto é, à santidade.
Assim, rodeados por uma tão grande nuvem de testemunhas através dos quais Deus se torna presente e nos fala, sentimo-nos fortemente atraídos para alcançar o seu Reino no céu, por meio do exercício das virtudes.
 
Acolhendo estes sinais e a voz do Senhor com a maior reverência e docilidade, a Sé Apostólica, desde tempos imemoriais, pela importante missão que lhe foi confiada de ensinar, santificar e governar o Povo de Deus, propõe à imitação, veneração e invocação dos fiéis homens e mulheres que sobressaem pelo fulgor da caridade e das outras virtudes evangélicas, declarando-os Santos e Santas num acto solene de canonização, depois de ter realizado as investigações oportunas
 
Por sua vez na homilía que proferiu na cerimónia de canonização dum Santo contemporâneo escreveu o Cardeal Saraiva Martins:
 
«A Igreja canoniza os seus filhos, não tanto para lhes acrescentar glória e celebridade, quanto para fazer deles os nossos intercessores junto de Deus e, sobretudo, os nossos modelos de vida. É a inspiração da mensagem específica do Santo o que mais interessa à Igreja, quando ela eleva à glória dos altares aqueles que o Espírito escolheu para lembrar e potenciar um ou outro valor evangélico, que se chama carisma. Os Santos canonizados são da Igreja e para a Igreja; não são luzeiros para esconder debaixo do alqueire, mas que ela  levanta  bem  alto  para  iluminar  a todos.
 
A Igreja, através do ministério petrino, pela boca daquele que é a sua cabeça e chefe visível, através do Santo Padre, apresentou à universalidade dos seus membros - diria mesmo ao mundo inteiro - a figura e o carisma de um dos seus filhos insignes, para que os fiéis e a humanidade encontrem nele uma inspiração de vida, uma ajuda na realização da própria vocação e missão.
 
Uma canonização torna-se, assim, uma verdadeira pregação e uma verdadeira catequese. …
 
Os Santos foram, acima de tudo, homens e mulheres de vida interior. Sentiam-se filhos adoptivos de Deus; faziam de Deus o seu tudo, a sua força e a sua herança. …
Deus precisa de nós na sua obra de salvação. Daí que a Igreja seja sacramento de salvação; daí a vocação universal à santidade, que é vocação e ao mesmo tempo missão: santidade, não apenas pessoal e particular, mas para irradiar e santificar os outros.
 
Todo o baptizado tem o direito e o dever  de  ser  apóstolo.  Esta  é  a  sua vocação  e  missão  na  vida  e  neste mundo.».
 
Então se «Os Santos canonizados são da Igreja e para a Igreja; não são luzeiros para esconder debaixo do alqueire, mas que ela  levanta  bem  alto  para  iluminar  a todos.» como afirmou o Cardeal Saraiva Martins, podemos nós esconder a santidade de vida da Carmita «debaixo do alqueire» ou pedir à Santa Igreja que a levante como luzeiro para iluminar a todos?
 
A Carmita não precisa nada de ser elevada aos altares, porque pelo seu testemunho de vida gozará certamente da graça do Céu, mas nós precisamos que a Igreja o faça!
 
Paulo Gamito de Faria 
27.02.2012, 3.ª-feira, I da Quaresma.